Daniela Flor e Daniel Costa estreiam Um Céu de Assombro

Daniela Flor e Daniel Costa estreiam Um Céu de Assombro no dia 12 de setembro no Teatro Cacilda Becker

Com direção de Kleber Montanheiro e texto de Daniel Veiga, espetáculo retrata um mundo devastado e discute o sentimento de não sabermos lidar com o luto e a angústia sobre o que está por vir

Idealizado e escrito logo depois da pandemia de Covid-19, o distópico Um Céu de Assombro revela um diálogo entre duas pessoas em uma terra devastada, tentando lidar com a incerteza do futuro e o luto por aqueles que se foram. O espetáculo, com texto de Daniel Veiga, direção de Kleber Montanheiro e elenco formado por Daniela Flor e Daniel Costa, tem sua temporada de estreia no Teatro Cacilda Becker de 12 a 29 de setembro.

A atriz e idealizadora da montagem Daniela Flor conta que a ideia de criar o espetáculo surgiu para expressar a necessidade de estar em cena após mais de dois anos de estagnação durante a pandemia de Covid-19.

“A peça veio de tudo o que estava acontecendo no mundo e principalmente no Brasil, de um presidente que estava sem nenhum olhar para isso, tirando sarro das pessoas que morreram, amigos próximos, familiares. E, como atriz, como artista, me veio a necessidade de transformar todos aqueles sentimentos em arte, que é a nossa função, transformar o mundo que a gente vive em arte, para conseguirmos deglutir, digerir, devolver como arte”, revela.

Durante a busca por uma dramaturgia que desse conta de todas essas inquietações, os artistas procuraram o autor Daniel Veiga, que havia escrito o texto curto “Coincidente”. A obra retratava um casal em situação de escombros e foi usada como disparadora para a criação de Um Céu de Assombro. “O projeto almeja relatar nosso tempo, reconstruir ruínas e unir escombros, buscando reencontrar a identidade em meio ao caos psicológico, emocional, profissional, fraterno, monetário, social e institucional”, acrescenta Daniela Flor.

A trama se passa em um futuro devastado, no qual dois estranhos, potencialmente inimigos, se comunicam pelo rádio. De um dos lados da linha, está um homem intelectual que passa os dias diante de um aparelho de comunicação tentando contato com a esposa que partiu. Do outro, está uma mulher soldado que busca ajuda após ter desertado e ter sido ferida pelo próprio capitão. Cada um está em meio aos destroços do que um dia foram prédios.

A ação avança tensa, dramática, lacunar e um jogo se instaura entre os dois em que não sabemos bem quem é quem, quem está falando a verdade e se alguma relação entre eles se estreitará. Entre escombros e ruínas, a trama avança entrecortada por ruídos, silêncios, estações cheias de diálogos fragmentados e corpos arruinados, trazendo o vislumbre incerto do que pode vir a ser da humanidade. Eles especulam o que virá para nós e o que será de nós, que dita o tom de isolamento e de desolação.

“Acho que Um Céu de Assombro é uma forma também de juntarmos essas angústias, de fazer um grande memorial disso tudo, das pessoas que perderam entes queridos, dessa forma. É um pouco fazer esse choro coletivo, esse entendimento coletivo de tudo isso, que ninguém estava sozinho”, antecipa Dani Flor.

Para contar essa história, a encenação e a dramaturgia se apoiam em um grande relógio em cena, inspirado no projeto Doomsday Clock, criado em 1947 pelo grupo Atomic Scientists para alertar a população mundial sobre o quão rápido a humanidade se aproxima do fim do mundo, representado pela meia-noite. A cada catástrofe ambiental, pandemia, guerra ou ameaça nuclear, os ponteiros avançam alguns segundos (atualmente estamos há 90 segundos do fim). No entanto, decisões políticas e eventos positivos fazem o tempo retroceder.

“O nosso relógio também tem essa marca do fim do mundo à meia-noite e ele anda um pouco pra trás e um pouco pra frente durante o espetáculo. Então, ele vai mostrando, contando um pouco a história dessas personagens que estão à iminência de algo aterrorizante, né? A encenação traz esse distanciamento, esse futuro distópico como um distanciamento para poder criar uma reflexão mesmo”, explica o diretor e cenógrafo Kleber Montanheiro.

A cenografia, conta o encenador, ainda se apoia em elementos e fragmentos, como a areia disposta no piso, para criar uma ideia de escombros, de lugar desértico. “A ideia é trabalhar com esses signos da destruição. Mesmo num escombro, mesmo na destruição, construímos uma beleza estética visual que aproxima a plateia e, ao mesmo tempo, cria um distanciamento acerca do que a estamos falando, de quem somos nós, do que estamos fazendo aqui e por que estamos caminhando para este fim”, complementa.

Sobre Daniel Veiga – autor

Daniel Veiga é dramaturgo, roteirista e ator. Entre 2019 e 2020 foi o primeiro docente homem trans no curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro, mesmo curso onde se formou em 2016. Atualmente é orientador do Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro (Santo André), professor de roteiro da AIC – Academia Internacional de Cinema e dá aulas de dramaturgia e roteiro como convidado em instituições como SESC-SP; SP Escola de Teatro e Escola de Teatro Célia Helena. 

É coordenador pedagógico do curso Dramaturgia Pluriversal pela Escola Itaú Cultural. Participou como convidado de bancas de editais como Pequenos Formatos de Dramaturgia (CCSP) e da Convocatória Piloto de Espetáculos do IBT (Instituto Brasileiro de Teatro). No audiovisual, esteve em salas de roteiro pelo Colaboratório Negro NETFLIX, Sala Narrativas Negras do Canal Paramount e em sitcom para o Canal Multishow. Autor da série TORMENTA e do longa TERRA DE SANGUE, premiado pelas Organizações dos Estados Ibero-Americanos em parceria com o ICAB.

Como ator, migrou para o audiovisual após quinze anos atuando em teatro. Ganhou o KIKITO, o Araibu e o Troféu Vento Norte pelo curta VOCÊ TEM OLHOS TRISTES de Diogo Leite. No teatro, também dirigiu entre 2009 e 2016 a Cia Dithyrambos e seu texto DA MAIS BELA QUE TIVE ganhou Menção Honrosa no Prêmio Cidade de Belo Horizonte em 2013. Sua última direção foi em 2020, a peça online B(o)neca Russa.doc, texto de Marcelo Oriani.

Kleber Montanheiro – direção e cenografia

Multiartista com 29 anos de carreira, é diretor cênico, dramaturgo, cenógrafo, figurinista, iluminador e artista visual em expografia. Criou cenário, figurino e luz do espetáculo Misery, com Marisa Orth e Luis Gustavo; Cada um com seus ‘pobrema’, de Marcelo Médici; cenário e iluminação de Madame de Sade, direção de Roberto Lage, Macbeth, direção de Regina Galdino, entre muitos outros. Dirigiu O Doente Imaginário, de Molière; Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare; e A Odisséia de Arlequino, uma commedia dell’arte inspirada nos canovaccios italianos. 

Indicado a mais de 25 prêmios em diversas categorias, ganhou o prêmio APCA 2008 por Sonho de Uma Noite de Verão e o prêmio FEMSA 2009 por A Odisséia de Arlequino, ambos de melhor diretor. Foi vencedor dos prêmios APCA e FEMSA 2012 pelos cenários e figurinos de A História do Incrível Peixe Orelha. Dirigiu em 2013 no Teatro Popular do SESI: Crônicas de Cavaleiros e Dragões, inspirado no livro A Saga de Siegfried, de Tatiana Belinky, recebendo o prêmio FEMSA 2013 de melhor iluminação. Recebeu o prêmio São Paulo pelos figurinos da peça Carmen, a Grande Pequena Notável. Em 2018 foi indicado ao prêmio Shell de melhor figurino e ao prêmio Bibi Ferreira de melhor cenografia pelo espetáculo Um Beijo Em Franz Kafka, de Sérgio Roveri, direção Eduardo Figueiredo. Em 2019 foi indicado ao prêmio Shell de melhor cenografia por Visceral, de Nanna de Castro, dirigido por Dan Rosseto. 

Foi indicado ainda ao prêmio Aplauso Brasil 2019 pelo figurino de Frida – Viva La Vida, do mexicano Humberto Robles, direção de Cacá Rosset. Seus últimos trabalhos em direção foram os espetáculos Nossos Ossos, baseado no livro homônimo de Marcelino Freire e Tatuagem, do filme de Hilton Lacerda. Por esse último está indicado ao prêmio APCA 2022 de melhor diretor.

Ficha Técnica

Idealização: Daniela Flor

Texto: Daniel Veiga

Direção e Cenário: Kléber Montanheiro

Elenco: Daniela Flor e Daniel Costa 

Ass. Direção: João Pedro Ribeiro

Direção Musical: Suka Figueiredo

Coreografias: Andressa Secchin 

Figurino: Jay Boggo

Iluminação: Karen Mezza

Vídeos e Fotos: Denny Naka

Assessoria de imprensa: Pombo Correio

Produção: Movicena Produções (Amanda Chaptiska) 

Realização: Lagartixa Preta Produções 

Projeto contemplado pela 18ª edição do Prêmio Zé Renato

Sinopse

Num futuro devastado, dois estranhos se comunicam pelo rádio: um homem em busca da esposa desaparecida e uma mulher ferida, sua potencial inimiga, em busca de ajuda. Entre escombros e ruínas, a trama avança entrecortada por estações cheias de diálogos fragmentados e corpos arruinados, trazendo o vislumbre incerto do que pode vir a ser da humanidade.

Serviço

Um Céu de Assombro, de Daniel Veiga

Temporada: 12 de setembro a 29 de setembro 

Quinta a sábado às 21h

Domingo às 19h

Teatro Cacilda Becker– Rua Tito, 295 – Lapa

Ingressos: Gratuitos, disponíveis na Sympla

Classificação: 12 anos

Duração: 80 minutos

Capacidade: 198 lugares