Palhaça Espiga estreia espetáculo. Sexta (12) e sábado (13): Palhaça Espiga estreia espetáculo que reflete sobre a diversidade das formas de expressão
Criada pela artista Jéssica Tamietti, que celebra 17 anos como palhaça, a peça trata as várias formas de se comunicar; apresentações acontecem nesta sexta e sábado, 12 e 13 de julho, no CRAS Vila Cemig e no Centro Cultural Urucuia
Mesmo após o avanço de tecnologias que deveriam facilitar o entendimento entre as pessoas, alguns problemas de comunicação parecem atemporais. É baseada nessa percepção repleta de graças e desacertos sobre a humanidade que a Espiga, palhaça da artista cênica Jéssica Tamietti, encarna o espetáculo “Esse Trem de Comunicação”. A peça acontece nesta sexta-feira e sábado, dias 12 e 13 de julho, às 10h30, respectivamente no Centro de Referência de Assistência Social — CRAS Vila Cemig e no Centro Cultural Urucuia, ambos na região do Barreiro. A entrada é gratuita, sem necessidade de retirada prévia de ingressos.
Voltado para todos os públicos, o espetáculo foi concebido durante a pandemia, enquanto a população mundial esteve forçada a desenvolver relações quase que estritamente virtuais. Mesmo vivendo uma era tecnológica bombardeada por novidades velozes, a exemplo das potencialidades da inteligência artificial e dos algoritmos, a Palhaça Espiga — que celebra 17 anos em 2024 — percebeu que os velhos problemas de comunicação entre as pessoas não só continuaram presentes, como se acentuaram, escondidos atrás das telas de celulares, computadores, televisores etc.
“Na pandemia, por ser o único modo de comunicação possível, fomos inundados de lives, vídeos, webinários e aulas gravadas. E, ironicamente, foi em uma oficina online de palhaçaria que surgiu a ideia e concepção da peça”, relembra Jéssica. A referida oficina é o módulo “Parto de Mim”, desenvolvido pela atriz, palhaça, diretora e dramaturga carioca Karla Concá, artista que ajudou no desenvolvimento do espetáculo e assumiu a direção da peça. Concá é referência na palhaçaria brasileira, sendo fundadora da trupe “Marias da Graça”, primeiro grupo de palhaçaria formado apenas por mulheres no Brasil, ativo desde 1991.
Durante as aulas, atrás de um computador, Jéssica observou como as dúvidas, os desentendimentos, a falta de compreensão, as gafes e tantos outros desacertos se intensificaram nas relações humanas, impulsionados pelas tecnologias. “Os desencontros continuam acontecendo. Mas, hoje, sinto que existe um imediatismo no qual as pessoas esperam respostas instantâneas. Lembro da época em que tínhamos que deixar um recado e aguardar uma resposta no tempo do outro. Isso é essencial para uma boa comunicação. Mas, hoje, muitas vezes esse tempo é negligenciado”, avalia Jéssica.
Seguindo essa perspectiva, “Esse Trem de Comunicação” recorre ao “mineirês” — que denomina tudo e qualquer coisa como “trem”, fornecendo uma ampla e didática metáfora de comunicação — para falar de situações nas quais, à primeira vista, nem a escrita, nem a fala, nem os gestos, nem a presença, nem qualquer código, legenda ou explicação pedagógica seria capaz de sanar a falta de entendimento. Contrariando essa premissa inicial, a Palhaça Espiga se mostra especialista em solucionar desentendimentos e, durante o espetáculo, ensina ao público múltiplas formas de se comunicar. Afinal, para realizar seus sonhos é preciso saber comunicá-los com o mundo.
Karla Concá acrescenta. “É um espetáculo que fala de termos sonhos e de não desistirmos deles, mesmo que venham os obstáculos. De uma maneira atrapalhada e engraçada, Espiga vai falando da paciência que vamos precisar ter conosco na vida e vai dando o seu recado sobre equilíbrio, auto estima, acolhimento a si mesma e perseverança”, afirma a diretora.
“Propomos ao público uma reflexão sobre a diversidade de formas de se comunicar. É preciso que a gente se comunique e entenda as diversidades com respeito. Afinal, o ponto de vista do outro é fundamental — e a forma como ele se expressa, também. Por isso, falamos das diferenças culturais, locais e sociais na comunicação, além de trazer questões sobre a comunicação inclusiva, ainda tão necessária nos dias de hoje”, avalia Jéssica.
Mobilidade
“Esse Trem de Comunicação” mantém uma estrutura física simples, motivada pela consideração de Jéssica Tamietti em batalhar para que a peça possa ser reproduzida no máximo de lugares possíveis, sem a necessidade de logísticas que envolvam o transporte de cenários, por exemplo — mantendo uma tradição reproduzida ao longo dos quase 20 anos de carreira, marcada por apresentações em locais como hospitais, lares de idosos e comunidades periféricas.
Além de um singelo figurino circense e suas malas, em cena, a Palhaça Espiga terá a companhia apenas do público para contar sua história, em uma apresentação lúdica e divertida. “Optamos por não ter cenário para que a peça tenha mobilidade de circulação. Assim, ela poderá ser realizada em diferentes espaços, praças, quadras e, claro, nos palcos e auditórios. A ideia é que o espetáculo seja simples e possa circular em diferentes contextos”, justifica a artista e complementa. “Este solo é a concretização do sonho de apresentar em todo canto em que caiba uma palhaça e sua mala, de levar humanidade, proporcionar a reflexão de como anda nossa comunicação, como anda nossa vida e nossos sonhos, provocando sorrisos e emoções, de forma diversa, inclusiva, mostrando que rir dos nossos problemas é possível, e que resolvê-los também é”.
Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
Jéssica Tamietti, a Palhaça Espiga
A multiartista Jéssica Tamietti atua como atriz, contadora e escritora de histórias, professora, palhaça, poeta, compositora e dubladora audiovisual. Iniciou seus estudos no universo da palhaçaria em 2007, participou da trupe “Até Tu, SLU”, projeto desenvolvido na Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) de Belo Horizonte. No mesmo ano, cursou uma oficina do ator Ricardo Puccetti, integrante do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp (LUME), de São Paulo, e referência em pesquisas na área de atuação, especialmente a palhaçaria. Nessa época, deu vida à Palhaça Espiga de Milho Verde, mais conhecida como Palhaça Espiga.
Entre 2015 e 2023, a Palhaça Espiga integrou a Sociedade do Riso, grupo de palhaços voluntários dedicados a realizar interações em hospitais e lares de idosos em Belo Horizonte e na região metropolitana da capital. Também participou de muitas edições do Encontro Internacional de Palhaços Circovolante, em Mariana (MG); do Festival Para-Benjamin, em Pará de Minas (MG); do Festival Anjos do Picadeiro (RJ), encontro internacional de palhaços realizado de forma itinerante no Brasil; e do Festival de Belén, em Iquitos, no Peru.
SERVIÇO | “Esse Trem de Comunicação”, por Palhaça Espiga
Quando. Dias 12 de julho (sexta-feira) e 13 de julho (sábado), às 10h30
Onde. CRAS Vila Cemig (R. Faisão, 1.071 – Flávio Marques Lisboa); e Centro Cultural Urucuia (R. W-3, 500 – Pongelupe)
Quanto. As apresentações são gratuitas, sem retirada prévia de ingressos
Foto: Rômulo de Almeida / Divulgação